sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Diagnóstico de hanseníase

O diagnóstico da hanseníase é essencialmente clínico, tendo como base sinais e sintomas e a história epidemiológica do paciente (anamnese e exame clínico). Em se tratando de uma doença contagiosa, granulomatosa, de evolução insidiosa (lenta) e de grande potencial incapacitante, o diagnóstico precoce deve ser o primeiro objetivo das ações de controle da hanseníase. Na prática do dia a dia isso só é possível a partir das manifestações clínicas da doença. É importante ressaltar que o diagnóstico de hanseníase é essencialmente clínico, com base na anamnese (tempo de manifestação, ocorrência de casos na família e percepção de parestesias) e no exame clínico (dermatológico, neurológico e avaliação oftalmológica). Outras provas complementares são: exames de laboratório- baciloscopia e histopatologia; prova da histamina.
É hanseníase quando uma pessoa apresenta um ou mais dos seguintes sinais:
  • Lesão (ões) e/ou área (as) da pele com alteração de sensibilidade;
  • Acometimento de nervo (s) periféricos com ou sem espessamento neural associado a alterações sensitivas e/ou motoras e/ou autonômicas.;
  • Baciloscopia positiva de esfregaço intradérmico (BAAR).
Anamnese: Importa a sintomatologia neurológica e os sinais cutâneos, bem como a duração, localização e evolução das lesões existentes e a história epidemiológica, incluindo a procedência do doente e a fonte provável de infecção.
Exame clínico: As condições de iluminação e orientação do paciente são imprescindíveis para a valorização do resultado dos exames. O primeiro passo é a inspeção, para a identificação das áreas acometidas. Toda a superfície cutânea deve ser examinada. É importante lembrar que o paciente deve ser examinado como um todo, e levar em conta seu estado emocional. O exame clínico, para o diagnóstico da hanseníase, deve contar com o exame dermatológico e o exame neurológico.
Exame dermatológico: No exame objetivo da pele deve-se verificar a presença de lesões, sua localização, forma, numero, dimensões, configuração, confluência, contornos, limites, bordas, consistência. Quando se trata de hanseníase, as seguintes lesões podem ser encontradas, sempre associadas a distúrbios de sensibilidade cutânea.
  • Manchas hipocrômicas e/ou eritomatosas: alteração da cor, sem relevo na superfície da pele e os limites na maioria das vezes são imprecisos. À medida que as manchas evoluem pode ocorrer a diminuição da sudorese. A localização mais freqüente desse tipo de lesão cutânea é nas nádegas, tronco, membros e face.
  • Lesões com placa: são de tamanhos variados, bem limitados, com tendência à cura central, com bordas elevadas ou com formação de microtubérculos em alguns pontos. São, em geral pouco numerosas, assimétricas, anestésicas, anidróticas (não suam) e com rarefação de pelos (alopecia). Localizam-se em geral, no tronco, membros superiores e inferiores.
  • Lesões pré-foveolares: são lesões eritomatosas, planas com centro claro.
  • Lesões foveolares: (tipo queijo suiço): são placas eritomatosas, de tonalidade ferruginosa, infiltradas, com centro claro e deprimido, limites internos precisos e externos difusos.
  • Tubérculos: são elevações sólidas, circunscritas, de diâmetro maior que 0,5 cm e se formam na derme; sua cor é a de pele normal, podendo ser eritomatosas, acastanhadas ou amareladas, de consistência mais ou menos firme.
  • Nódulos: São formações sólidas, localizadas na hipoderme, sendo muitas vezes mais palpáveis do que visíveis. Os nódulos tem cor da pele normal, eritomatosos ou arroxeados, de consistência firme, elástica ou mole, de forma arrendondada ou oval e apresentam limites imprecisos.
  • Infiltração difusa: em alguns casos a pele pode ter aspecto liso e brilhante por aumento difuso da espessura da pele.
  • Outras manifestações: infiltração na face (faces leoninas), queda de cílios e supercílios (madarose), irite, obstrução nasal, rouquidão (ou voz fanhosa), orelhas em brinco, ginecomastia( aumento das mamas em homem), orquipididimite, edema de extremidades, febre, anorexia, ressecamento da pele, espessamento de nervos periféricos ou alterações de sensibilidade sem lesões cutâneas aparentes.
Exame neurológico: realiza-se a pesquisa nas lesões suspeitas, a palpação dos principais troncos nervosos periféricos e a verificação da integridade anatômica e avaliação motora das mãos, pés e face. Os nervosperiféricos que devem ser pesquisados são: ulnar, radial, mediano (MMSS), fibular e tibial posterior (MMII) e auricular ( no pescoço), porque são os mais comumente acometidos pela hanseníase. è importante ressaltar que, na face, deve ser investigada a possibilidade de acometimento do nervo facial e trigêmeo, principalmente se o paciente apresenta lesões hânsenicas na região periorbitária, porque o risco de desenvolver lagoftalmo (perder a capacidade de fechar os olhos, de piscar, por lesão do nervo facial) é alto por ocasião de estados reacionais principalmente. A maioria das deformidades e incapacidades que ocorrem na face é decorrente da ação direta do bacilo sobre as estrturas desta região, com exceção do lagoftalmo e da alteração de sensibilidade da córnea, que são decorrentes de lesão neural (nervos facial e trigêmeo respectivamente). O nariz é, também, uma estrtura na face que pode estar muito acometido na hanseníase, onde podemos encontrar hansenomas e infiltrações, quando o paciente tem a sensação de obstrução nasal, podendo ocorrer um aumento de secreção, que torna viscosa, com mau odor e aderente á mucosa, em forma de crostas, de onde podem advir as ulcerações e até perfurações da cartilagem septal (uma das causas de desabamento da pirâmide nasal).

Fonte: Ações de controle da hanseníase na Atenção Básica. Manual de treinamento. Secretaria de Estado de Saúde Publica-SESPA.Belém, 2010.

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