segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Retomar a dimensão do cuidado faz-se indispensável


As práticas de saúde na atualidade tem sofrido os impacto gerados pela moderna sociedade contemporânea. Retomar a dimensão do cuidado, como prática libertadora faz-se imprescindível.

A sociedade alcançou um nível de desenvolvimento tecno-científico e comunicacional nunca sequer imaginado por nossos ancestrais. A espécie humana mesmo uma das mais frágeis do reino animal venceu e dominou. Venceu e dominou as intempéries da natureza; venceu e dominou outros animais do mundo animal; venceu e dominou territórios; venceu e dominou as distâncias e as barreiras comunicacionais; venceu e dominou as técnicas de tratar enfermidades; descobriu a cura de males que dizimaram populações, mas nesse processo de cientificação, perdeu-se na sua essência, no cuidar de si e do outro. Cuidado que se expressa na natureza da vida. Sem cuidado e cooperação, nossos ancestrais não teriam sobrevivido, não teriam resistido. Foi a força do cuidado, manifesto na cooperação, na consciência de si e do outro, que nos permitiu chegar tão longe.

Como compreender essa dicotomia: avançamos na tecnologia para preservar a espécie, para cuidar do outro, mas nos desumanizamos. Retomarmos nossa humanidade perdida faz-se urgente. Não é admissível que achemos normal a fome, a miséria, crianças maltratadas, submetidas ao trabalho, aos abusos sexuais, ao mundo do crime, a violência, ao desamor; não é aceitável que a hanseníase, continue em pleno século XXI imperando como uma doença que avança sobre as populações menos favorecidas economicamente e sobre as crianças! Não se pode ficar sem questionar as relações de poder que favoreceu tanto estudos, pesquisas para descobrir novos tratamentos, técnicas, equipamento de ultima geração para dar suporte ao diagnóstico e tratamento de algumas doenças e a hanseníase dependa da acuidade visual dos profissionais. Embora a introdução do PQT tenha sido um avanço inestimável, mas precisa-se avançar mais.

Como deixar uma doença tão complexa em seu diagnóstico, tratamento e cura que depende de tantas variáveis, a mercê da acuidade visual? Sabe-se das dificuldades que as práticas institucionalizadas do cuidar da saúde enfrenta: baixo capital social e político da clientela; os tabus alimentares, os mitos que envolvem a relação saúde-doença; unidades de serviços de saúde precários com oferta de serviços menor que a demanda; poucas iniciativas de educação e saúde; numero reduzido de profissionais de saúde; ausência de uma política séria de cargo, carreiras e salários; profissionais de saúde com inúmeros vínculos profissionais que pactuam, em que pese as várias exceções, com a sociedade e gestores um pacto de que “não pagam o que mereço, então não cumpro meu horário para que fui contratado”.

Então, como ter tempo para “olhar o usuário” para “cuidar” ? Daí, ser este um dos fatores que tem propiciado o erro diagnóstico e o avanço da doença para as formas mais graves e para os segmentos mais vulneráveis da sociedade: as crianças.

Além do que, muitos profissionais, ainda tem a perspectiva de um saber controlador em oposição a um compartilhamento de um saber mais libertador, mais protagonizador. Dessa forma, a escuta fica prejudicada, o olhar fica “embaçado”. Retomar a dimensão do cuidado através da escuta sensível, do olhar mais atento, pode nos ajudar a diminuir esse quadro tão grave da hanseníase no Estado do Pará por que não dizer do Brasil?. É preciso ter mais consciência do papel social, da responsabilidade, da grandiosidade de ser um profissional de saúde, a despeito das enormes dificuldades que muitos bravamente enfrentam nesse Estado de dimensões continentais sem o suporte necessário.

O cuidado aparece somente na perspectiva de uma estética reducionista a uma valorização da imagem a partir de determinado recorte de classes sociais. Os menos favorecidos socialmente, tendem a se observar menos porque precisam lutar pela sobrevivência diária. Daí uma das dificuldades do diagnóstico precoce. As manchas na pele são consideradas comuns em meio a outros sinais provocados pelo processo de exclusão social. Há uma certa conformidade, mesmo porque a hanseníase no primeiro momento é assintomática. Assim, de um lado tem-se unidades de saúde cujas demandas são maiores que as ofertas de serviços e profissionais que perderam a capacidade de olhar, de examinar mais detalhadamente o paciente; de outro tem-se uma população que são se percebe portadora de direitos.

Por ser a hanseníase uma doença crônica com grande poder incapacitante, o Ministério da Saúde recomenda como uma das dimensões importantes do cuidado em hanseníase, o autocuidado, revelando a necessidade do protagonismo social dos usuários do SUS com hanseníase. O autocuidado expressa a percepção das necessidades específicas de cada um nos aspectos físicos, mentais e emocionais, o que envolve responsabilidade, autonomia e liberdade. O autocuidados em hanseníase proposto pelo Ministério manifesta-se a partir da observação sistemática da face, mãos e pés, visto serem áreas mais comumente afetadas pela doença.

Para além do autocuidado reside o resgate da auto-estima, do protagonismo social, de homens e mulheres que se redescobrem autônomos e co-produtores de sua saúde. Assumindo-se como um sujeito social dotado de direitos e deveres que tem na dimensão do cuidado sua fonte de realização, não admitindo ser tratado de outra forma. Para tanto, faz-se necessário um novo processo pedagógico, um aprender conjunto de usuários e profissionais de saúde, saindo da medicina curativista, que só informa quão importante é o autocuidado, mas que acima de tudo, fomentem um resgate de cidadania, de empoderamento social.

É PRECISO RETOMAR A DIMENSÃO DO CUIDADO E DO PROTAGONISMO SOCIAL DOS AGENTES ENVOLVIDOS.

Nenhum comentário:

Postar um comentário